quinta-feira, 21 de abril de 2011

1001 RAZÕES PARA NÃO VOTAR SOCRATES (1)

Fim da linha - por António Nogueira Leite (aqui)

Portugal acumulou uma série de desequilíbrios que eu e muitos colegas vimos há muito denunciando como caminho certo para a tragédia. Desde há mais de 12 anos que os avisos que eu e muitos outros economistas fomos fazendo, caíram em saco roto e não mereceram a devida atenção por toda uma série de ignorantes poderosos, tanto no Estado como no sector privado. Na altura, isto é, no final da década de 90 e início da década passada, várias figuras, entre as quais o actual presidente da República, chamaram a atenção para a perigosíssima simultaneidade do avolumar da insustentabilidade das nossas finanças públicas com o crescimento do desequilíbrio externo.

Quanto a este último, expliquei na altura que a permanência na zona euro não nos permitia produzir sucessivos défices externos e que, quando estes se revelassem excessivos, implicariam dolorosos ajustamentos reais. Infelizmente, o Banco de Portugal e, em particular, o seu governador, tinham uma visão diversa que, vindo de quem vinha, acabou por fazer escola junto dos sucessivos governos socialistas. Na verdade, aquando da sua tomada de posse, em Fevereiro de 2000, Constâncio forneceu o argumentário que justificou boa parte dos desvarios que se verificaram durante toda a década seguinte: "...Sem moeda própria não voltaremos a ter problemas de balança de pagamentos iguais aos do passado. Não existe um problema monetário macroeconómico e não há que tomar medidas restritivas por causa da balança de pagamentos. Ninguém analisa a dimensão macro da balança externa do Mississipi ou de qualquer outra região de uma grande união monetária...".

Com este “respaldo teórico”, os governos do engenheiro Sócrates conduziram o país a uma tragédia de proporções inimagináveis. Com a conivência e apoio dos sempre presentes empreiteiros e de outros agentes privados de vistas curtas mas exibindo notável apetite por rendas que o Estado lhes pudesse proporcionar, traçou um caminho que conduziu ao aumento da dívida externa líquida de 94 mil milhões de euros quando tomou posse para 185 mil milhões no final do ano passado, e ao crescimento da dívida pública consolidada de 84 mil milhões para 169 mil milhões. A isto há que somar muitos compromissos do Estado aos accionistas das fantásticas construções de betão que cobrem o país, aos bancos credores de muitas empresas públicas há muito falidas (desde os anos 90, sublinhe-se) e os resultantes das tropelias financeiras praticadas em empresas municipais e parcerias público privadas do poder local. Os primeiros ascendem hoje a perto de 60 mil milhões de euros, o passivo das empresas públicas subiu de 32 para 63 mil milhões de euros entre 2005 e 2010 e os últimos atingiram uma expressão financeira que nem o Ministério das Finanças ou o Tribunal de Contas sabem determinar.

Este desgoverno fez-nos chegar ao fim da linha. O país foi humilhado e vai ter de mudar. Com dificuldade, penosamente, durante muitos anos. O golpe dado na credibilidade de Portugal por Sócrates, seus acólitos e múltiplos aliados de circunstância vai demorar muitos anos a recuperar. O mais extraordinário é que, após tudo isto, quem destruiu Portugal não peça desculpa antes se preocupe em endossar a culpa a sucessivos bodes expiatórios: os especuladores, Frau Merkel e, desde Março, as oposições irresponsáveis.
 

Sem comentários:

Enviar um comentário