terça-feira, 12 de abril de 2011

UM PROBLEMA DE DECÊNCIA

«Afinal, as sondagens exibem divisão nas pessoas. Afinal, o próximo Governo defrontar-se-á com um apertado plano de austeridade para os próximos anos. Vigiado pela Europa e pelo FMI, será forçado a arrumar a sala depois da luxúria socialista. A sua margem será curta, os seus limites serão rígidos. Quem estiver atento às contrapartidas que os líderes europeus estão a exigir, sabe que vai ser assim. Até isso devemos ao primeiro-ministro Sócrates. Não se limitou a espoliar-nos da nossa soberania financeira quando irresponsavelmente nos deixou cair no remoinho dos juros e tornou inevitável o pedido de ajuda externa para o Estado e os bancos cumprirem as suas obrigações mais básicas. Sócrates, não exagero, expropriou-nos também da democracia. Quando em Maio estiver pronto o plano de intervenção externa para um período de três anos, que liberdade caberá ao Governo que vier senão para cortar, exasperar, sufocar a nossa já parca confiança? Não é um preço admirável. E com que liberdade iremos votar em Junho senão para selar um destino já traçado? Sócrates estragou-nos o passado e o futuro. Sabemos hoje que encenou uma fuga, como logo após a sua demissão escrevi aqui: um fugitivo que tenta manipular as suas próprias responsabilidades e transferir culpas. Ao contrário do que ele diz com insistência, ninguém o demitiu. Ele é que se demitiu. Ao contrário do que ele repete com dolo, não foi o chumbo do PEC4 que nos conduziu aqui. Foi a hecatombe de um Governo que errou e ficou sem saída e não quis perder a face. Por isso, estas eleições são decisivas. Mostrar-nos-ão aquilo que valemos, até onde vai a nossa aprendizagem e discernimento. Se os portugueses não castigarem quem nos mentiu e continua a mentir para além do tolerável, então as próximas eleições ficarão reduzidas a nada. Não seremos melhor do que a congregação disciplinada de Matosinhos que, num gesto de fé, se reuniu no fim-de-semana e em que um primeiro-ministro teve a lata de nos falar como se estivesse na oposição. Chegámos ao fim. É um problema de decência

Pedro Lomba, Público
"roubado: aqui"

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