quinta-feira, 24 de março de 2011

Da credibilidade

Vitor Bento (AQUI)

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De tal forma que, no exercício de reporte obrigatório à Comissão Europeia, feito nas vésperas do acto eleitoral, se reportou um défice de 5.8%, quando economistas - com muito menos informação do que a oficial - já diziam há meses que o valor não poderia ser inferior a 7%. É claro que as previsões económicas daquela Comissão, divulgadas pouco depois, já apresentavam um défice de 8%, mostrando a credibilidade atribuída ao que lhe fora reportado pelo Governo português.

Como se sabe, o défice acabou por ficar em 9.3% do PIB (não contando com os "activos financeiros"). E, sem surpresa, verificou-se que, aquando do reporte feito em Março de 2010, Portugal foi o país que apresentou, de longe, o maior desvio entre o "valor provisório" reportado em Setembro e o "valor revisto" reportado naquela data, confirmando a submissão da informação do Estado aos interesses eleitorais do partido do governo.

Este exercício descredibilizou irremediavelmente qualquer informação sobre as finanças públicas proveniente do Governo ou de órgãos por si tutelados. E o que se passou com as contas de 2010 reforçou tal convicção. De tal forma que, em boa verdade, ninguém, fora do Governo, sabe a verdadeira situação financeira em que o País se encontra e que certamente será pior do que tem sido dito. Daí que não possa surpreender a coincidência entre a visita de técnicos da Comissão e do BCE para analisar as nossas contas e o subsequente anúncio de mais medidas restritivas, apesar das declarações oficiais sobre a execução orçamental.

Temo, aliás e na linha dos últimos acontecimentos, que o que verdadeiramente motiva a "denodada resistência" ao apoio externo seja o receio de revelação da verdadeira situação em que nos encontramos.

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