quarta-feira, 30 de março de 2011

XEQUE POLÍTICO

Carlos Marques de Almeida, ‘Senior associate' do St. Antony's College, Oxford - AQUI
  
A crise política é um remédio e é uma doença, um sintoma de infantilidade no implacável reino dos adultos. E agora com os credores à porta e os juros da dívida ao nível da estratosfera, o País enfrenta três meses de vazio político.

Miserável sistema político que não responde em tempo útil a uma situação de emergência. Nas próximas semanas, em clima histérico de campanha, Sócrates vai arrastar um PS amorfo, rendido e esgotado para a defesa do líder traído. Do lado de um PSD impaciente e nervoso, e em registo volátil de campanha, Passos Coelho vai passear o sermão da sanidade pelos ouvidos dos portugueses. O Sócrates social vai atacar um Passos Coelho liberal, uma espécie de batalha final que antecipa o fim do mundo. O fim do mundo que Portugal enfrenta não é objecto do discurso político, pois este exige um compromisso com a verdade. O País não tem uma ideia geral sobre a sociedade, o País não tem uma teoria geral sobre a mudança da sociedade, logo Portugal não tem uma estratégia de desenvolvimento. O novo mundo representa a liquidação de um Estado "devorista" e a definição de uma Grande Sociedade. A refundação da democracia portuguesa apela à coragem que está para além dos ressentimentos políticos, das clientelas e dos ajustes de contas.

Mas nesta crise política, os sinais de Belém não deixam de preocupar o patriota inquieto. Em condições normais, os políticos são prisioneiros das palavras e donos dos silêncios. Uma perversa inflexão está a perturbar a acção do Presidente da República. Cavaco Silva é cada vez mais prisioneiro dos seus silêncios e cada vez menos dono das suas palavras. Basta observar como os silêncios do Presidente são objecto de manipulação pelas forças políticas no jogo partidário. Os silêncios de Cavaco Silva são preenchidos por terceiros à medida dos interesses mais imediatos, esvaziando a função da Presidência como último recurso da nação. Uma situação a corrigir rapidamente para que o sistema político tenha o fundamental elemento de moderação que não funcionou na actual crise política.

Sobra a sacrossanta questão do FMI. Com o País no limiar da insolvência, Sócrates vê no FMI uma traição, Passos Coelho encontra no FMI a solução. Em torno deste falso dilema vai girar toda a campanha eleitoral. Sócrates levou Portugal à pior situação financeira dos últimos 100 anos e recusa qualquer solução que não seja Sócrates. Passos Coelho, sensato e humilde, não resiste à violência verbal de um Sócrates traído na honra política. A solução milagrosa não está na discussão de um Governo unicolor com maioria absoluta ou de uma Coligação arco-íris. Para Portugal já não há milagres, o saneamento nacional exige uma Coligação, uma maioria absoluta e um estável fornecedor de liquidez como o FMI. Sócrates deixou-se confundir com Portugal e a demência levou o País à condição de um pedinte. E onde é que se viu um pedinte discutir a cor do fato?

Sem comentários:

Enviar um comentário