domingo, 27 de março de 2011

O país de Sócrates

João Pereira Coutinho (AQUI)

Imagine o leitor que o primeiro-ministro David Cameron, num dia decisivo para o futuro político e económico do Reino Unido, resolvia abandonar a Câmara dos Comuns logo no início do debate. Não por motivos de saúde; não porque alguém resolvera declarar guerra ao país; mas porque, simplesmente, tinha mais que fazer do que aturar o Parlamento. O que diria a ‘inteligência’ britânica do caso? E o que diria o cidadão comum?

A pergunta é absurda porque o cenário é impensável: nenhum primeiro-ministro de um país com tradição democrática e liberal sobreviveria ao gesto. Em Portugal, pelo contrário, o gesto não é apenas normal; é, suspeita minha, compreendido e apreciado pela selvajaria dos nativos. Os mesmos que sempre tiveram pelo autoritarismo do ‘chefe’ a admiração própria dos escravos. É por isso que, depois de seis anos de abuso e ruína, é precoce decretar o óbito de quem nos enterrou vivos. José Sócrates não nasceu do nada; ele precisou de uma cultura iliberal para crescer e prosperar. E que não se apaga da noite para o dia.

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